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segunda-feira, 2 de junho de 2008

Di-versifique no verso com o poeta Felipe Júnior




A PRAGA DE ZAMBETA



A sorte é uma conseqüência
No percurso desta vida,
Eu digo isso pois se eu tive
Ela de mim fez partida.



No ano oitenta e dois
Eu nasci lá no sertão
Mãe num foi pro hospitá
Porque não tinha um tostão.
A parteira me pegou
Deu um bufete que alejou
Os meus pés por mais de dia;
A danada me limpava
Dava tapa e eu chorava
Enquanto o povo sorria.

Eu nasci mei mulanbeiro
Das costas amulanbada,
Pai dizia: pega a enxada
Que você vai ser roceiro.
Pronto, aí começa o puteiro
Que minha vida virou;
No bolso nenhum trocado
E era feito um condenado
Que nunca se libertou.

Um dia disse pra mãe
Que eu queria namorar,
Pra que fui dizer aquilo
Tudo só fez piorar.
Mãe arrumou uma nega,
Eu disse: quero galega.
Disse ela: "tás conversando,
Tu vai ficar com Maria
Que ela é moça de família
Vá logo se preparando.

Maria, era seu nome
Tinha apelídeo Zanbeta.
Porque tinha a perna torta
E só andava de muleta.
Começamos a namorar
Mãe disse: é bom pensar
Logo no teu casamento.
Eu disse: mãe, um momento,
É bom não se apressar.
Mãe me deu um croque na testa,
Preparou a nossa festa,
Terminei por me lascá.

Com três meses de casório
Algo bom se acedeu
Maria teve um infarto
Dois dias depois morreu.
Fiquei até satisfeito
Pois somente desse jeito
Dela eu ia me livrar.
Pois num é que a danada
Não se conformou com nada
E vivia a me assombrar.

Dei até graças a Deus
Por leva-la ao paraíso,
Mas a peste de Zambeta
Tira ainda o meu juízo.

Tem duvidas? Pois veja:

Eu montei uma budega
Co’um dinheirinho juntado
Três meses abri falência
Era tanto do fiado.
Eu pensava todo dia,
Isso é praga de Maria
Que vive me infernizando.
Rezava pra fazer teste
Mas a alma dessa peste
Vivia me atormentando.

Eu sonhei plantando milho
Que dava lapa de espiga,
Plantei mais cinco hectare
Com três meses deu formiga.

Depois disso a São Paulo
Fui em busca de trabalho
Passei três meses de fome
Oh, castigo do... (censura)!!!
Rezei pro meu padre Ciço:
"Me arrume qualquer serviço!"
O danado me escutou.
Três meses eu fui pedreiro
E eu comendo o dia inteiro
O pão que o diabo amassou.

Eu dizia: "Eita vida,
Vou me embora pro sertão!
Vou plantar o meu roçado
Colher milho, arroz, feijão.
E quando chegar sereno
Eu vou botar o veneno
Não vai ter formiga preta.
Tudo acontece comigo,
Vou ter sempre este castigo
Só por causa de Zambeta.

Em terreiro de macumba
Fui rezar pra Currupeta,
Mas de nada adiantava
Pra os assombros de Zambeta.
Se eu quisesse namorar
Já começava a contar
Se os três meses vem chegando.
A contagem? Dita e feita,
Para a praga da sujeita
Já ia me preparando.

Eu não tô mais agüentando
Essa praga da mulesta,
Enquanto a besta parida
Faz desse assombro uma festa.
Quer saber, vou dar o troco.
Vou sair desse sufoco
Sem ter medo de careta.
Aquele assombro já era
Vou mandar pra besta fera
A danada da Zambeta.

Poeta Felipe Júnior

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